Eu tenho diversas bailarinas preferidas — e cada uma tem seu cantinho especial no meu coração. Mas quem me acompanha desde o início do meia ponta sabe que a primeira que ocupou esse espaço foi a Alina. Esse post, portanto, é principalmente pra quem lê meu blog desde 2009. Pra Carol que iniciou no ballet adulto e na fotografia de dança achando que não iria muito longe. Mas acontece que, quando eu comecei a dançar, eu comecei a sonhar. E sonhos têm poder. Sou movida a eles, todos os dias da minha vida.
Eu já tinha tido a grande e extraordinária oportunidade de fotografar Alina Cojocaru durante um ensaio da companhia London City Ballet, em Junho deste ano. Com a câmera tremendo nas mãos e certa timidez, me apresentei a ela, dizendo que a admirava muito. Mas Alina é um ser iluminado e me acolheu desde a primeira troca de palavras. Dali em diante, começamos a construir nossa relação profissional e cheguei a trabalhar com ela mais uma vez, em um workshop. Até que, um dia, a inspiração me encontrou de novo. Daquelas faíscas que nos seduzem com uma ideia ousada e a gente pensa “será? E se?”. Eu estava em um ônibus a caminho de Lisboa em um dia trivial qualquer. Mas eu tinha um celular em mãos e a coragem de enviar uma mensagem.
Eu queria voltar a criar. De tempos em tempos, meu coração se recusa a ser engolido pela rotina cruel da imigrante tentando sobreviver ao capitalismo e me desperta. Alina respondeu que topava, sim, colaborar comigo em uma sessão de fotos artísticas. Eu pensei: “sua louca, agora você vai ter que fazer“.

Meditei sobre o conceito a partir de referências de fotografias antigas, tanto de bailarinas, quanto de mulheres do século XIX. E já há muito tempo que tenho sentido vontade de trabalhar com o símbolo do véu, com as texturas e a fluidez de tecidos… Também me veio o simbolismo da libélula e suas asas silenciosas, que lembram as asas das sílfides e willis. Com o mood board pronto, coloquei a ideia em palavras, e depois em uma apresentação para a Alina.
Wings of Silence é uma série de retratos que explora o diálogo sutil entre a quietude e o movimento, o tecido e a pele, o efêmero e o eterno.
Alina só tinha um dia na agenda: 22 de Outubro. Eu, que não tinha planos para ir a Londres nessa época, me vi resolvendo tudo em 2 semanas: reservando voo, hotel, alugando um estúdio e encomendando até um figurino, produzido para a Alina (à distância e sem medidas rs) pelas queridas da Ballet Shop (loja de artigos de dança aqui de Portugal). Foi uma loucura, mas que me lembrou da Carol de 20 e poucos anos (e trinta e poucos também), que obedecia a esse impulso criativo sem nem pensar duas vezes. Posso dizer que foi uma das maiores ousadias (inclusive, financeiras) que fiz em 2025. Mas valeu cada segundo.

Fotografamos em um dia chuvoso com a presença ilustre das duas filhas da Alina, que foram um sopro de ar fresco para essa fotógrafa um pouco nervosa, mas sem mãos tremendo dessa vez, pois eu sabia o que queria. E sabia também de toda a minha caminhada até esse precioso momento da minha carreira. E essa confiança, que vem da experiência e de uma visão clara, é um dos grandes presentes da maturidade.
E foi assim que 2025 me presenteou com uma das maiores joias que eu já recebi. Criei ARTE, a minha arte, com uma das maiores bailarinas de todos os tempos, mas não só: com uma das maiores bailarinas do meu coração.
Até chegar aqui, foram 16 anos de ballet, de fotografia, de baixa autoestima, de criatividade, de dívidas, de dúvidas, de rede de apoio, de renascimento das cinzas, de mudança de país e muita fé na beleza que há no mundo. A beleza que resiste ao caos, à dor, aos lutos e faz tudo renascer.

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Com amor, Carol
foto em destaque: Alina Cojocaru por Carol Lancelloti para a série Wings of Silence
